29.8.08

As tecnologias criadas pelo homem determinam o ambiente em que ele vive onde, a produção é artesanal no período pré-industrial, é mecanizada e serial no período industrial mecânico e atinge a velocidade da luz no período eletro-eletrônico. Respectivamente nossa percepção foi e esta sendo estimulada pelos sensores naturais, pelos sensores mecânicos onde homem e máquina atuam simultaneamente e pelos sensores eletrônicos onde o mundo age como uma mente unicamente determinada. Ao afirmar que “O meio é a mensagem”, Mcluhan mostra que os meios de comunicação e de produção de cada momento cultural e social configuram as consciências e as experiências de cada um de nós.

O Meio é a Mensagem – Marshall McLuhan
Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem

(a) A Palavra Falada
A palavra falada envolve todos os sentidos. Ela traduz algo que ocorreu. Ela expõe o que ficou armazenado na memória. O corpo todo pode falar quando utilizamos os sentidos. O gesto, o olhar, a voz e o tato são usados juntos com a fala, enfim, o corpo todo fala quando estamos a nos comunicar. A linguagem falada é considerada a mais rica forma de comunicação humana, pois é ela que distingue o homem dos outros animais.

(b) A Escrita
A escrita registra o conhecimento fora do ser humano. Ela é uma extensão dele. O homem deixa suas marcas através dos meios de comunicação e a escrita é a base destas formas de registros. A escrita é um meio de comunicação que permite um grau de imparcialidade muito grande. Ela é uma ferramenta que usamos para a reflexão e através dela o homem organiza e estrutura o pensamento. Os meios atuais de comunicação se apresentam para afetar e modificar os valores ocidentais que quase sempre foram baseados na escrita. Como signo que é, ela registra um conhecimento e separa o autor de seu texto. Uma das principias funções da escrita é o seu desprendimento do autor depois do texto produzido.



(c) As Estradas e as Rotas do Papel
As estradas estão fundamentalmente relacionadas a escrita. As informações precisam dos meios físicos materiais para poderem ser transmitidas. As estradas sempre serviram para levar informações de um lugar para outro, através delas que o homem se comunica escrevendo suas idéias e informações no papel. A palavra comunicação tem sido muito usada em conexão com as estradas, com as pontes, com as rotas marítimas, os rios e com tudo que leva o homem de um lugar ao outro.

(d) O Número
Na antigüidade o número sempre esteve associado à magia. Ele também sempre esteve relacionado as dimensões espaciais de nosso mundo. Na verdade, em essência, o número está relacionado a medida e ao tato. Hoje ele pode ser associado ao ato de medir. Os números surgem das relações de medida que o homem tem como seu corpo. Como uma extensão do tato. O número é a relação do nosso corpo com o mundo. Ele também é relacionado a linguagem da ciência e serve para estruturar o pensamento humano, fundamentalmente porque está relacionamento com a lógica. Os números foram criados pelos homem em suas formas como signos figurativos. Eles representam visualmente o que representam em quantidade.

(e) O Vestuário
O vestuário, como extensão da pele, pode ser visto como um mecanismo de controle térmico e como um meio de definição social. O vestuário guarda nosso calor e energia individualmente e também define como somos e como pensamos. Alguns americanos estimam que uma sociedade despida consumiria em alimentação 40% mais do que uma sociedade com roupas. A relação tato e vestuário é muito forte.

(f) A Habitação
A habitação é a extensão do vestuário. Segundo o autor, criamos meios que são extensões dos homens, no primeiro momento, depois, passam a ser extensões dos meios que os precederam. Para guardar nosso calor e energia de maneira coletiva usamos a habitação que vem depois do vestuário. Cada tipo de habitação possui um significado de interpretação do espaço diferente que reflete características da sociedade na qual foi produzida, isto é, cada cultura constrói suas moradias conforme os valores que privilegia. A cultura letrada divide suas casas em vários cômodos e ambientes com funções diferentes, já as culturas tribais, que vivem mais em comunidades, moram em casas mais coletivas onde a individualidade não é um valor a ser considerado.

(g) O Dinheiro
O dinheiro é a ponte que acelera a troca e estreita os laços de interdependência entre as comunidades. A moeda substitui a troca de produtos e bens de consumo. As sociedades não letradas utilizam-se das trocas simples sem dinheiro, já nas sociedades letradas a segmentação e a linearidade da escrita ajudam a estabelecer a divisão do trabalho e com ela, a especialização das funções. O dinheiro passa a ser o principal meio de relacionamento entre as atividades produtivas desenvolvidas pela nossa cultura.


(h) Os Relógios
A possibilidade de fixar o tempo como algo que ocorre entre dois momentos diferentes modificou significativamente o ponto de vista e de referência de nossa sociedade. O relógio surge nos mosteiros medievais a partir da necessidade de estabelecer normas e regras sincronizadas para a vida dessas comunidades religiosas. No renascimento, o relógio combina-se com a uniformidade da tipografia e isso se estende para as organizações sociais. O homem criou o tempo abstrato e com isso começou a fazer atividades programas como comer quando não tinha fome, mas sim, porque estava na hora de comer.

(i) A Tipografia
As tecnologias modernas não teriam existido se não fosse a imprensa. Os projetos arquitetônicos, os mapas e a geometria estão totalmente relacionados com a possibilidade de organização do espaço visual, assim como a imprensa. A inadequação do uso da escrita e a impossibilidade de organizá-la de maneira sistemática para transmitir informação foi um entrave para o desenvolvimento das ciências na Grécia e Roma Antiga. Criar formas de armazenar a informação já é um modo de transmiti-las, pois o que está armazenado é mais fácil de ser levado de um lugar ao outro, do que o que ainda deve ser recolhido. A ciência do mundo ocidental sempre esteve na dependência da escrita. Muito antes da imprensa de Gutemberg, o homem usava a impressão para transmitir informação, através da xilogravura, da litogravura e de outros meios de reprodução

(j) As Histórias em Quadrinhos - HQ
As histórias em quadrinhos, dando continuidade a evolução da imprensa, passam a incorporar o sentido da narrativa e da continuidade, de um dia após o outro criado pelos jornais. Os textos das histórias possuem um raciocínio seqüencial e elaboram sátiras de situações diárias transformado em caricatura a coisas que ocorrem no mundo. Os primeiros livros de HQ apareceram em 1935 e não possuíam sequência, eles eram complicados de serem decifrados. As HQ’s introduzem cenas dos filmes de cinemas. Tanto as histórias em quadrinhos como os anúncios fazem parte do mundo dos jogos. Um mundo onde os modelos são prolongamentos de situações que se passam na realidade, no entanto, tratados de forma cômica através do mundo do entretenimento.



(k) A Palavra Impressa
A impressão por meio dos tipos móveis foi a primeira forma de mecanização da escrita e estabeleceu um maior grau de complexidade na mais antiga forma de comunicação artesanal. A explosão tipográfica transformou as mentes e as vozes dos homens e, assim, pode reconstituir o diálogo humano em escalas mundiais. Os meios elétricos de transmissão de informações estão alterando nossa cultura tipográfica, assim como as impressões modificaram as iluminuras - manuscritos medievais. A palavra impressa disseminou a informação de um modo assustador. Os manuscritos que inicialmente eram produzidos pelos escribas passaram a serem impressos em máquinas com velocidade muito grande. A informação, gradativamente, passava a ser acessível a qualquer um.

(l) A Roda, a Bicicleta e o Avião
Antes do aparecimento do veículo de rodas o homem utilizava o princípio da tração animal de arrasto ou através dos trenos. A roda é uma extensão de nossas pernas. As ferraduras e os arreios aumentaram o poder da força animal e ampliaram a velocidade das ações humanas. Com a roda o homem pode transportar mais depressa os produtos dos campos para as regiões ou os postos de troca. A roda é a possibilidade de dar movimento a fotografia através do cinema. As imagens fotográficas colocadas lado a lado, e executadas em um rolo de filme, mostram o homem e seu mundo em movimento.

(m) A Fotografia
A fotografia está relacionada a momentos isolados. Ela fragmenta o espaço e do tempo. Se não tivéssemos inventado a impressão, as gravuras em metal e em madeira, e o desenho com um ponto de fuga, a fotografia não teria existido aparecido. A geometria euclidiana associada ao ponto de fuga é um princípio utilizado pela máquina fotográfica para fixar a imagem. O passo fundamental da era do homem tipográfico para a era do homem gráfico foi dado pela fotografia. Ela registra um momento de felicidade ou de tristeza, uma ação congelada no tempo e a vida e a morte.

(n) A Imprensa
Os meios de comunicação impressos trazem velocidade ao nosso mundo. A medida que aumentamos a velocidade de transmissão da informação aumentamos a autonomia e o poder de decisão das pessoas. Com a imprensa nos afastamos da representação e da delegação de poderes e vamos em direção ao envolvimento de todas as comunidades no ato de decidir. Hoje o poder de relacionamento entre as pessoas e de transmitir informação é praticamente individual. Podemos dirigir informações particularizadas a cada indivíduo de nossa sociedade. O jornal é produzido para informar um grande número de pessoas.

(o) O Automóvel
Somos criaturas de quatro rodas. O carro tornou-se uma peça de roupa para nós, sem o qual nos sentimos inseguros, despidos e incompletos diante do complexo urbano que habitamos. Hoje os governantes investem muito mais em estradas e vias expressas para os carros do que em projetos sociais, de educação e saúde. Os meios de comunicação atual estão gradativamente substituindo o papel dos automóveis. É quase certo que o ato de ir e vir serão substituídos pelo ato de se comunicar, neste sentido, o carro seguirá o mesmo rumo do cavalo e, futuramente, será apenas um meio de entretenimento. A Internet já é uma realidade que faz do ato de ir e vir, em algumas situações, algo desnecessário. Antes dos Fax e da Rede Mundial de Computadores éramos obrigados a enviar fisicamente os nossos textos. Hoje, através dos meios de comunicação atual, podemos enviar texto de modo digital.






(p) Os Anúncios
Os anúncios, cada vez mais, são produzidos de modo a representar o desejo do público. No entanto, eles tendem a se afastar da imagem que o consumidor faz do produto, e cada vez mais, aproximar-se da imagem que o produtor quer transmitir. Os produtores de anúncios recebem grandes somas de dinheiro para transformar os produtos em grandes ícones. Qualquer anúncio é criado e construído sobre os alicerces testados de esteriótipos públicos ou conjunto de atitudes médias estabelecidas. A publicidade só ganhou impulso no final do século passado, graças à invenção da fotogravura. Anúncios e fotografias tornaram-se intercambiáveis. O mais importante é que os anúncios possibilitaram o aumento da circulação dos jornais e das revistas e, consequentemente, aumentaram a divulgação de informações. Hoje as fotos fazem parte necessária dos anúncios.

(q) O Jogo
Os jogos são modelos dramáticos de nossas vidas psicológicas e servem para liberar tensões particulares. A arte e os jogos nos facultam permanecer à margem das pressões rotineiras. Os jogos são extensões do homem social e do corpo político e de nossas vidas interiores. Mcluhan acreditava que os jogos são extensões de nosso “eu” particular, e que eles constituem-se de meios de comunicação. Os jogos são meios de comunicação de massa e são situações arbitrárias com a participação de muita gente. O jogo é uma máquina que começa a funcionar a partir do momento em que os participantes transformam-se em bonecos, temporariamente.

(r) O Telégrafo
O telégrafo introduz a eletricidade na comunicação. A partir de sua criação o homem está no mundo elétrico e diante da velocidade da luz. Usando um sistema de códigos baseado no sistema binário o telégrafo cria uma forma de comunicação onde as distâncias deixam de existir. Passamos a nos comunicar na velocidade da eletricidade, e, se os meios de comunicação são extensões de alguma parte do corpo humano, como afirma o autor, podemos dizer que a eletricidade é uma extensão de nossas mentes. Ela pode ser considerada como a extensão do nosso sistema nervoso central. Vivemos na era da informação e da comunicação e os meios elétricos criam redes e ambientes onde a interação ocorre de maneira total e onde todos os sentidos do homem estão sendo solicitados.

(s) A Máquina de Escrever
Em 1882, os anúncios afirmam que a máquina de escrever seria um ferramenta auxiliar do aprendizado de leitura, de escrita, de pronúncia e da pontuação. Ela ajuda o poeta na indicação exata da respiração, das pausas e das suspensões das sílabas e justaposição das palavras e frases. A máquina de escrever é a partitura dos poetas. Ela trouxe para o mundo dos negócios uma nova dimensão da uniformização, da homogeneidade e do contínuo nos textos e relatórios. A máquina de escrever levou a tecnologia de Gutenberg a todos os cantos de nossa cultura e de nossa sociedade.



(t) O Telefone
Com a invenção do telefone podemos dizer que o homem entra no período eletro-eletrônico de seus meios de produção e que temos criado uma extensão de nossa audição e de nossa voz. Se a máquina de escrever separou a mulher do seu lar, transformando-a numa especialista do escritório, o telefone levou-a definitivamente ao mundo dos executivos. O telefone exige a participação completa do homem, diferente da escrita e das páginas impressas. O homem letrado se ressente desta falta de atenção total, pois há muito está sendo habituado a fragmentação o seu mundo. Muita gente sente a necessidade de escrever ou rasbiscar quando está telefone. O telefone, assim como a fala, é caracterizado por ser um meio que exige a participação de todos os nossos sentidos e faculdades.

(u) O Fonógrafo
O fonógrafo é uma extensão e amplificação da voz que deve ter diminuído a atividade vocal individual, assim como o carro diminuiu as atividades pedestres. Ele teve sua origem no telégrafo e no telefone elétrico e não mostrou sua função elétrica, assim como o gravador de fitas. O mundo do som é totalmente unificado em suas relações imediatas, isto, torna-o semelhante ao mundo das ondas magnéticas. Também chamado de gramofone ele era considerado uma forma de escrita auditiva.

(v) O Cinema
No cinema enrolamos o mundo real num carretel para desenrolá-lo e como um tapete mágico de fantasia, ele é um casamento espetacular da velha tecnologia mecânica com o novo mundo elétrico. O cinema funde o mundo mecânico com o mundo orgânico num outro ambiente onde as formas ondulantes estão ligas a tecnologia da impressão tipográfica. Sendo uma forma de experiência não-verbal, o cinema, assim como a fotografia, é um meio de comunicação sem sintaxe. No entanto, como a fotografia, o cinema pressupõe um alto índice de cultura escrita para apreciá-lo. A audiência letrada acostumada a acompanhar as imagens impressas, linha a linha, sem por em questão a lógica da linearidade, aceita a seqüência fílmica sem protesto. Já os povos não letrados, quando um ator some da tela, podem querer saber onde ele foi.

(x) O Rádio
O poder de envolvimento do rádio é enorme e profundo. Um exemplo disso é a famosa transmissão de Orson Welles sobre a invasão marciana na Terra, que foi tão realista que as pessoas saíram correndo para as ruas, com medo dos marcianos. A imagem auditiva tinha até a pouco tempo um poder significativo na opinião das pessoas. Hoje com a televisão este poder do rádio diminuiu muito. Um dos muitos efeitos que a televisão provocou sobre o rádio foi o de transformá-lo, de um meio de entretenimento, para uma espécie de sistema de informação apenas.

(y) A Televisão
A perturbação psíquica e social criada pela imagem da TV marca profundamente a era em que vivemos. Na TV a ilusão da terceira dimensão é sugerida de leve pelo cenário do estúdio, mas a sua imagem é propriamente de um plano bidimensional. O modo de percepção ocidental sempre esteve a separar e especializar os nossos sentidos, no entanto a TV unifica os nossos sentidos. Somos obrigados a ver, ouvir e pensar simultaneamente como quando estamos a falar, porém, não nos é dado o direito de opinar . Somos apenas espectadores passivos diante da tela que nos impõem autoritariamente as imagens e os pensamentos.

(z) Os Armamentos
As guerras do passado utilizavam armas que punham o inimigo fora de combate um a um. Mesmo as guerras ideológicas fora de combate dos séculos XVIII e XIX eram levadas a cabo para persuadir os indivíduos a adotarem novos pontos de vista, um de cada vez, mas a persuasão elétrica pela fotografia, o cinema, e a TV, agem impregnando de novas imagens populações inteiras. Se a guerra fria de 1964 foi empreendida pela tecnologia informacional, é por que todas as guerras sempre tem sido levadas a efeito com a última tecnologia disponível nas culturas em duelo. A partir da Segunda Guerra o perito atirador foi substituído pelas armas automáticas, que matavam sem necessidade de se fazer mira, é a extensão do poder visual na alfabetização e na cultura escrita.

(w) A Automação
Com a automação desaparecem os empregos e aparece a complexidade dos papéis sociais. A forma de armazenar e processar as informações em nossa sociedade modifica-se. Surgem os processos contínuos em vez dos lugares afastados. A fonte de energia pode ser separada do processamento e da transformação e diferente da era mecânica, hoje não precisamos mais estar perto de sua fonte de geração de energia e a mesma energia pode ser aplicada em processos diferentes e mais rapidamente. Na era mecânica fragmentamos e estilhaçamos o processo produtivo, hoje a eletricidade unifica e exige um alto grau de interdependência entre todas as fases do processo produtivo.