Filósofos y Mujeres de Wanda Tommasi - A diferença sexual na história da filosofia
Nesta obra a professora universitária italiana faz uma análise da história do pensamento ocidental para denunciar a longa inexistência de um pensamento justo da diferença feminina, provocado, sobretudo, pelo pensamento do sexo como neutro, tendo o masculino como modelo desse neutro. Este androcentrismo colocou o feminino como defeito, menoridade, insuficiência de chegar a ser como o tido “modelo” de humano, que era o masculino.
O predomínio do pensamento do sexo como neutro, como uno, é a crítica mais marcada desta obra, já que a autora defende o sexo como “duo” e não como “uno”, isto é, que existe uma diferença feminina, diferença essa que se funda de forma simbólica.
A autora denuncia que a inferiorização da mulher se deveu muito ao pensamento dualista iniciado pela Filosofia da Antiguidade Clássica. A dicotomia corpo/alma de Platão, com a inferiorização do corpo face à alma, funda o pensamento dicotómico que perdurará por vários séculos e que servirá de justificação do carácter inferior da mulher. Deste modo, os dualismos defendidos por vários autores tornaram-se modos de caracterizar o feminino e o masculino. Ao dualismo mulher/homem fazem corresponder: Platão o dualismo corpo/alma; Aristóteles os dualismos matéria/forma, passivo/activo, húmido/seco; Descartes e Kant o dualismo emoção/razão e Nietzsche o dualismo débil/forte, respectivamente sobre mulher e homem. É notório que o dualismo mulher/homem, comparado com os outros dualismos, resulta numa caracterização do feminino e do masculino muito redutora e, sobretudo, muito penalizadora para o feminino. Nesta tradição de pensamento dualista é uma constante a mulher ser conotada de: imperfeita, carente, passiva (justificado, muitas vezes, pelo acto da concepção, onde é apenas vista como corpo receptor), mentirosa/enganadora, tentadora/sedutora, superficial, adornada, sentimental (em clara oposição desvantajosa com racional).
A justificação para tais atributos negativos também variou ao longo dos tempos: ora justificado pelo próprio corpo feminino, ora pela natureza que fez a mulher imperfeita, ora ainda pela necessidade de haver uma ordem harmoniosa só possível pela hierarquização das relações (se há dois, um tem de mandar e o outro de obedecer).
Contudo, sempre existiram mulheres que tentaram quebrar com o silenciamento imposto por uma cultura e sociedades androcêntricas. Houve mulheres de comprovado pensamento. Mas, sem duvida que é no século XX que se dá a viragem antes ambicionada e tentada pelas mulheres. O contexto sócio-económico foi decisivo para a aceitação do pensamento feminino como válido. Esse contexto é, inevitavelmente, o da independência económica das mulheres, proporcionado pelo trabalho assalariado. Esta independência proporcionou a independência do pensamento feminino. Diz a autora, que o século XX tem “voz de mulher”.
Obra estruturada de forma muito clara e de leitura muito fácil, abre as perspectivas da leitora ou do leitor para as responsabilidades do pensamento filosófico na questão feminina. Para além disso, explica as diferenças entre o pensamento feminino da igualdade e o pensamento feminino da diferença, este último onde a autora se inscreve.