17.2.09

Filósofos brasileiros são alienados culturais, tabeliçoes de idéias, escreventes e nao escritores





"(...) O papel dos filósofos pertencentes ao meio subdesenvolvido na compreensão de seu mundo, das razões da tal estado e na proposta de rumos e ações políticas e culturais transformadoras da realidade ambiente é decisivo. Para isso, porém, faz-se mister, antes de tudo, compreenderem o que significa ser filósofo no país pobre e dependente. A primeira exigência consiste em admitir que não pode significar a mesma coisa ser filósofo no país desenvolvido, dominador e autônomo e no que ainda vegeta no subdesenvimento, na ignorância, do saber letrado e na carência de soberania e capacidade de definição e direção de seu processo de existência enquanto ser histórico particular. No mundo subdesenvolvido e na maior extensão analfabeto, o filósofo, para pensar autenticamente a realidade, precisa ser analfabeto. Não que, evidentemente, ignore a habilidade de ler e escrever - mas, sabemos bem não ser exclusivamente esta falta que constitui o anlfabetismo -, e sim porque coloca EM PRIMEIRO LUGAR, NA TENTATIVA DE CONCEBER E INTERPRETAR O MUNDO AS CONDIÇÕES REAIS DELE, ENTRE AS QUAIS SE INCLUI A DE SER UM MUNDO DE ANALFABETOS. Considerará a acumulação da cultura estranha e as diversas cogitações, passadas e presentes, conhecida pelo estudo dos livros, uma fonte SUBSIDIÁRIA, embora indispensável, para a formaçao da consciencia de si. Mas terá de APRENDER MUITO MAIS COM O QUE VÊ DO QUE COM O QUE LÊ. A consciencia filosófica só será legítima se explicar o estado do seu meio, não por um reflexo passivo exterior, mesmo verídico, mas PELA APREENSÃO DA ESSÊNCIA DO SER SOCIAL DO QUAL O PENSADOR É PARTE. O filósofo tem de identificar-se com as massas analfabetas, constituir a figura aparentemente paradoxal do analfabeto alfabetizado, para alcançar as bases nas quais fundar seu pensamento com máximas possibilidades de legitimidade. Tal como tem sido redigidos até hoje os poucos, confusos e irrelevantes ensaios designados no país atrasado pelo nome de "filosofia", são uma modalidade de ALIENAÇÃO CULTURAL EM FORMA PRATICAMENTE PURA. O filósofo, não tendo nada de próprio a pensar, satisfaz-se em respirar os zéfiros divinos provenientes das regiões ocidentais cultas, ricas, pensantes por direito natural. Algumas consequencias bizarras, e até cômicas, derivam dessa situaçaõ. NO PA´S SUBDESENVOLVIDO,´O FILÓSOFO, COMO SÓ REGISTRA O QUE FOI PENSADO E DITO NOS CENTROS METROPOLITANOS, PODE SER CHAMADO DE TABELIÃO DE IDÉIAS. A cultura, em conjunto, constitui o CARTÓRIO DOS CONHECIMENTOS ALHEIOS. Obrigado a colcionar e registrar os produtos do pensamento de origem externa, O FILÓFOSO NA VERDADE NUNCA CHEGA A SER UM ECRITOR; NÃO PASSA DE ESCREVENTE. Realmente, não escreve, porque NÃO CONSEGUE TER NADA DE ORIGINAL PRA DEIXAR ESCRITO. APENAS LAVRAM UMA ESCRITURA DO QUE OS OUTROS, OS SÁBIOS ESTRANGEIROS, DECLARAM PERANTE ELE. No país subdesenvolvido é impossível o surgimento de verdaeiros livros de filosofia. A verdade não consiste da descoberta de algum novo aspecto de ser, mas na fidedignidade das cópias e traslados dos documentos recebidos. A CULTURA É O CONJUNTO DOS REGISTROS DOS BENS INTELECTUAIS FIELMENTE REPRODUZIDOS, FABRICADOS POR PENSADORES DE FORA E APENAS ADQUIRIDOS POR NATIVOS COM ESPECIAL INCLINAÇÃO E SUFICIENTE TEMPO VAGO PARA SE DEDICAREM A ESSE GÊNERO DE DISSIPAÇÃO ESPIRITUAL. NÃO ÉPRECISO ACRECSENTAR QUE FAZEM DESSA PRERROGATIVA UM VALIOSO TÍTULO DE DESTAQUE SOCIAL. A ALIENAÇÃO TORNA-SE O MELHOR SINAL DA CAPACIDADE INTELECTUUAL. Brilha com mais nitidez esse papel egrégio se oo estudioso não se limitar à exclusiva atividade manducadora, mas se relevar um legítimo expoente do meio desprovido de auto-consciencia, engendrando livros, artigos de toda especie de publicações destinados a difundir o pensamento dos outros, o que é feito com grande satisfação pelos ressoadores indígenas, pois com esses documentos fica comprovado em registro com fé pública o seu concício com a ciência, as letras e as artes.(...)"