30.7.08

O MACACO NU Desmond Morris


INTRODUÇÃO do livro O Macaco Nu de Desmond Morris



(é a visão DELE..)

Existem atualmente cento e noventa e três espécies de ma­cacos e símios. Cento e noventa e duas delas têm o corpo co­berto de pêlos. A única exceção é um símio pelado que a si próprio se cognominou Homo sapiens. Esta insólita e próspera espécie passa grande parte do tempo a examinar as suas mais elevadas motivações, enquanto se aplica diligentemente a igno­rar as motivações fundamentais. O bicho-homem orgulha-se de possuir o maior cérebro dentre todos os primatas, mas tenta esconder que tem igualmente o maior pênis, preferindo atri­buir erradamente tal honra ao poderoso gorila. Trata-se de um símio com enormes qualidades vocais, agudo sentido de explo­ração e grande tendência a procriar, e já é mais do que tempo de examinarmos o seu comportamento básico.

Sou zoólogo e o macaco pelado é um animal. É, portanto, caça ao alcance da minha pena e recuso-me evitá-lo mais tem­po, só porque algumas das suas normas de comportamento são bastante complexas e impressionantes. A minha justificativa é que, apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo sapiens não deixou de ser um macaco pelado e, embora tenha adquirido motivações muito requintadas, não perdeu nenhuma das mais primitivas e comezinhas. Isso causa-lhe muitas vezes certo em­baraço, mas os velhos instintos não o largaram durante milhões de anos, enquanto os mais recentes não têm mais de alguns milhares de anos — e não resta a menor esperança de que ve­nha a desembaraçar-se da herança genética que o acompa­nhou durante toda a sua evolução. Na verdade, o Homo sapiens andaria muito menos preocupado, e sentir-se-ia muito mais satisfeito, se fosse capaz de aceitar esse fato. É talvez nesse sen­tido que um zoólogo pode ajudar.

Um dos fatos mais estranhos de todos os estudos anteriores sobre o macaco pelado é a forma sistemática como evitam fo­calizar o que é evidente. Os primeiros antropologistas apressa­ram-se a vasculhar os cantos mais escondidos do mundo, pre­tendendo decifrar as verdades fundamentais sobre a nossa na­tureza e dispersando-se pelas fontes culturais mais remotas, muitas vezes atípicas e falhadas, a ponto de se terem quase extinguido. Em seguida, regressam carregados de aterradoras informações sobre os hábitos de acasalamento mais bizarros, os sistemas de parentesco mais estranhos ou os costumes tribais mais fantásticos e usam esse material para compreender o comportamento da nossa espécie, como se ele fosse da mais transcendente importância. Sem dúvida que o trabalho desses investigadores é muitíssimo importante e valioso para mostrar o que pode acontecer quando a evolução cultural de um grupo de macacos pelados o empurra para um beco sem saída. Revela mesmo até que ponto o nosso comportamento se pode desviar do normal, sem no entanto redundar num completo fracasso social. Mas nada ficamos sabendo sobre o comportamento típico dos macacos pelados mais ou menos característicos. Isso apenas se pode conseguir examinando as normas do comporta­mento habitual dos membros mais vulgares, daqueles que fo­ram mais bem sucedidos e que correspondem aos principais tipos de cultura — as principais correntes que, no seu con­junto, representam a grande maioria. Do ponto de vista bio­lógico, essa é a única forma correta de abordar o problema. Os antropologistas da velha escola argumentariam que os seus grupos tribais tecnologicamente elementares estão mais pró­ximos do fulcro da questão do que os membros das civiliza­ções mais avançadas. Não concordo. Os grupos tribais sim­ples que ainda hoje existem não são primitivos, mas estupidificados. Há muitos milhares de anos que não existem verda­deiras tribos primitivas. O macaco pelado é essencialmente uma espécie exploradora, e toda a sociedade que não foi ca­paz de avançar constitui um fracasso e "seguiu um caminho errado". Por alguma razão se manteve atrasada, algo se opôs às tendências naturais da espécie para explorar e investigar o mundo que a rodeia. É muito possível que as características que os antigos antropologistas encontraram nessas tribos sejam exatamente os fatores que impediram o respectivo progresso. Daí o grande perigo de utilizar essas informações como base para um esquema geral do comportamento da nossa espécie.

Os psiquiatras e os psicanalistas, pelo contrário, não se afas­taram tanto, concentrando-se em estudos clínicos de exem­plares mais representativos. Infelizmente, uma grande parte do seu material inicial também não é adequada, embora não sofra dos mesmos pontos fracos que as informações antropológicas. Embora os indivíduos estudados pertencessem à maioria, eram, apesar de tudo> exemplares aberrantes ou falhados. Porque, se esses indivíduos fossem saudáveis, bem sucedidos, e portanto típicos, não teriam procurado tratar-se — nem contribuído para enriquecer as informações colhidas pelos psiquiatras. In­sisto mais uma vez que não pretendo depreciar o valor desse tipo de investigação, que nos proporcionou uma visão impor­tante sobre a maneira como as nossas normas de comporta­mento podem entrar em colapso. Simplesmente, parece-me insensato sobreestimar as primeiras descobertas antropológi­cas e psiquiátricas quando se procura discutir a natureza bio­lógica fundamental do conjunto da nossa espécie.

(Devo dizer que tanto a antropologia como a psiquiatria se estão transformando rapidamente. Muitos dos modernos inves­tigadores nesses domínios começam a reconhecer as limitações dos trabalhos iniciais e dedicam-se cada vez mais ao estudo de indivíduos típicos, saudáveis. Como disse recentemente um desses cientistas: "Pusemos o carro adiante dos bois. Agarramo-nos aos anormais e só agora começamos, um pouco tar­diamente, a interessar-nos pelos normais".)

A perspectiva que me proponho utilizar neste livro baseia-se em material recolhido de três fontes principais: 1) as infor­mações sobre o nosso passado desenterradas pelos paleontó­logos e baseadas no estudo dos fósseis e de outros vestígios dos nossos antepassados miais remotos; 2) as informações exis­tentes sobre o comportamento animal que foram estudadas na etologia comparada e se baseiam em observações pormenori­zadas obtidas numa grande variedade de espécies animais, es­pecialmente naquelas com que mais nos parecemos, os maçacos e símios; 3) a informação que se pode coligir através da observação direta e simples das formas de comportamento que são mais básicas e comuns entre os representantes mais bem sucedidos do próprio macaco pelado que correspondem aos principais tipos de cultura contemporânea.

Dada a vastidão do assunto, será necessária certa simplifi­cação. Vou tentar realizá-la, passando por cima dos pormenores da tecnologia e da terminologia e concentrando sobre­tudo a atenção nos aspectos da nossa vida que encontram fá­cil correspondência noutras espécies: atividades tais como ali­mentação, limpeza, sono, luta, acasalamento e assistência aos jovens. Como reage o macaco pelado em relação a esses pro­blemas fundamentais? Quais as diferenças e semelhanças entre essas reações e as dos outros macacos e símios? Que caracte­rísticas lhes são genuinamente específicas e em que medida elas se relacionam com a história da sua evolução, verdadeira­mente especial?

Ao encarar esses problemas, avalio bem quanto me arrisco a ofender certas pessoas. Muita gente não gosta de pensar que somos animais. E podem dizer que eu avilto a nossa espécie quando a descrevo em rudes termos animais. Posso apenas afirmar que não é essa a minha intenção. Outros ofender-se-ão pelo fato de um zoólogo se intrometer nos seus campos espe­cializados. Mas admito que essa perspectiva poderá ter grande valor e que, apesar de todos os defeitos, introduzirá novos (e de certa maneira inesperados) esclarecimentos sobre a natu­reza complexa da nossa extraordinária espécie

29.7.08

o macaco nu


Por Vaz Pinheiros:


O zoólogo inglês Desmond Morris despe o Homo sapiens de seus destaques biológicos e manifestações culturais e descreve aspectos de seu comportamento social, sexual, alimentar entre outros. Desta forma Morris aproxima a espécie humana de seus antepassados imediatos e afirma que apesar de estar na crista da evolução o ser humano não está tão distante quanto parece.

O documentário apresentado pelo comediante Robin Williams vem apresentar com uma boa dose de humor uma série de informações sobre golfinhos. São visitadas várias pesquisas que vem sendo desenvolvidas com golfinhos e durante aproximadamente uma hora de documentário vários aspectos comportamentais dos mesmos são citados e demonstrados.

Durante sua descrição do macaco nú Morris o compara por inúmeras vezes com símios e primatas de uma forma geral e embora consiga por muitas vezes traçar paralelos muito claros, acabam sempre por estagnar seu desenvolvimento pela baixa capacidade cerebral. Várias pesquisas com primatas, em especial com os chimpanzés, demonstram sua dificuldade de comunicação e abstração ou simbolização. Estas dificuldades são intensamente utilizadas por Morris para demonstrar a evolução humana.

Embora o nó evolutivo que ligue os golfinhos ao ser humano esteja muito distante (muito mais distante dos que com os símios e primatas) e que as estratégias evolutivas de ambos sejam muitos distintas, estas duas espécies parecem terem sofrido algumas pressões ambientais que as levaram a um desenvolvimento relativamente parecido de alguns aspectos comportamentais. Nestes casos embora a evolução tenha sido paralela, os golfinhos vem se apresentar muito mais aptos a se comunicar e simbolizar do que os símios e primatas que estão tão próximos dos seres humanos na escala evolutiva.

Fatores relacionados com a capacidade de comunicação e simbolização e algumas implicações destes nos comportamentos sociais, sexuais e alimentares, entre outros, serão discutidos neste seminário. Embora limitações de tempo e principalmente de conhecimento de minha parte não permitam que nos aprofundemos muito nesta discussão, a simples apresentação do tema já se torna válida, ficando detalhes e discussões mais profundas a cargo do forte instinto exploratório (mais uma faceta da sua evolução neotênica) que é crucial na espécie humana.

Como o documentário audiovisual será apresentado no início do seminário optei por trabalhar a discussão na ordem em que a informações pertinentes vão surgindo no mesmo. O documentário será apresentado sem interrupções, e a apresentação subseqüente tentará traçar o paralelo com as observações de Morris e os informações contidas no documentário. Estas informações serão na medida do possível agrupadas nos tópicos de discussão do livro “O Macaco Nú”.

Inicialmente os primatas precursores da espécie humana viviam em florestas, e por alterações ambientais tiveram que migrar para as planícies recobertas por formações vegetais mais esparsas como as savanas e pradarias. Várias teorias são apresentadas para caratcterizar esta passagem, e em paralelo tentar explicar o motivo pelo qual os antepassados da espécie humana teriam perdido os pelos do corpo, conservando-os apenas na cabeça. Uma destas teorias propõe que estes teriam passado por uma etapa intermediária na água, no litoral, onde a imersão do corpo (menos da cabeça, por nessecidade de respirar) teria ocasionado a queda evolutiva dos pelos. Esta teoria é ainda reforçada pela existência de diversas pilosidades nas costas do homem, que são hidrodinâmicas.
Os antepassados dos golfinhos por sua vez são os mesmos antepassados dos bovinos, a opção pelo ambinete aquático, moldou após séculos de evolução um animal inteligente, sociável, curioso e criativo. Caracteristicas que não se desenvolveram em espécies mais próximas do golfinhos na escala evolutiva.

Os golfinhos, bem como o homem e alguns primatas, se incluem no seleto grupo dos animais que fazem sexo por prazer. No ser humano resulta de uma estratégia evolutiva para aumentar a recompensa decorrente da relação monogâmica “adotada” pelos primatas, sendo originalmente caracteristica de carnívoros. Outra caracteristica que se apresenta comum nas duas espécies, e na espécie humana está relacionada com a mesma estratégia evolutiva citada acima e a ampliação do periodo em que a fêmea está apta a fazer sexo, este periodo costuma se mais restrito em outras espécies.

O documento audiovisual sobre golfinhos demonstra o cuidado dos pais sobre a prole, nos humanos isto também ocorre em função da neotenia. Acredita-se que o prolongamento que caracteristicas fetais (neotenicas) teriam propiciado um maior desenvolvimento mental, e conseqüentemente mais facilidade para a comunicação e aprendizado de linguagens. Nota-se uma incrível facilidade de comunicação nas duas espécies.

A exploração e o conhecimento do território, era uma necessidade dos primatas que passavam de uma hábito nômade para sedentário. A necessidade fugir e se esconder de predadores também aumentava nas áreas com vegetação mais aberta das planícies. Como resultado observa-se hoje uma curiosidade e um grande interesse pelo desconhecido na espécie humana.

Estudos desta natureza vem demonstrar que o homem apesar do verniz tecno-cultural conserva uma série de instintos animais. Na busca das razões pelas quais o homem progride tecnológicamente de forma insaciável e excitante retomamos a aspectos desenvolvidos sob estratégias de sobrevivência de espécies precursoras à humana. Se o desenvolvimento tecnológico e cultural das sociedades não permitir a manutenção dos instintos biológicos fundamentais humanos, respeitando aspectos da herança evolutiva, nossa refinada existência pode ser sufocada por uma complexa angustia cuja nenhuma doutrinação cultural, social ou religiosa poderá saciar.

DUCHAMP-ME







da revista bravo:

[Marcel Duchamp o visionário que definiu o que hoje chamamos de arte, é tema de uma exposição em São Paulo - a maior já dedicada ao artista na América Latina]

--> A ARTE COMO IDÉIA, NÃO MAIS COMO MANUFATURA

--> DUCHAMP PROPUNHA UM ENVOLVIMENTO ALÉM DA VISÃO

(...) A revolução perpretada pelo francês (duchamp) é mais difícil de definir por causa de sua complexidade e da maneira anárquica com que ele mudou tudo na esfera artística. O conceito que orientou seu trabalho,no entanto, é bastante claro. Com Duchamp nasceu a idéia de que uma obra só está completa quando a ela se soma a intpretação do outro - no caso, o espectadr. O maior artista do século 20 chegou a usar a expressão "arte retiniana" para definir as criações de seus antecessores, voltada para a pura admiração da imagem captada pelos olhos. Ele não se contentava mais em jogar apenas com a visão: estimulava uma verdadeira TROCA INTELECTUAL com o admirador de suas peças. Pode-se dizer que tudo o que se chama hoje de arte contemporânea, das Marilyn Monroe de Warhol às performances de Joseph Beuys, deriva, em alguma medida, de sua idéia seminal. (...)

do livro "Duchamp 18887-1968 A arte como contra-ataque" , da Janis Mink:

Visto sob o ponto de vista atual, Duchamp parece ser o mais influente artista do século XX. A sua avaliação crítica das condições em que a arte foi criada e comercializada estabeleceu uma tendência que hoje continua atual. Foi Duchamp quem respondeu de forma mais radical às mudanças que foram impostas pela era industrial ao mundo da arte. E, no entanto, Duchamp é o menos espetacular dos artistas que este século produziu até agora.


[as fotos são da exposição no MAM, em sampa... o MAM fica no Parque Ibirapuera... - tirei só das obras mais famosas pq a máquina tava sem memória e sem onde descarregar as fotos, então desculpe pela "obviedade" das fotos hehe]

20.7.08


Do livro q o Litost (vítor) recomendou, A insustentável leveza do ser, do Milan kundera:

o amor idílico...

"É um amor desinteressado: Tereza não pretende nada de Karenin. Nem mesmo amor ela exige. Nunca precisou fazer as perguntas que atormentam os casais humanos: será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim? Todas essas perguntas que interrogam o amor, o avaliam, o investigam, o examinam, será que não ameaçam destruí-lo no próprio embrião? Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença. Mais uma coisa: Tereza aceitou Karenin tal qual é, não procurou torná-la sua imagem, aceitou de saída seu universo de cachorra, não desejou confiscar nada dela, não sente ciúmes de suas tendências secretas"

vazio agudo
ando meio
cheio de tudo
Paulo Leminski

Arte e Ilusão, Gombrich




uma pequena passagem do livro q recém comecei a ler, do Gombrich (q a professora Nara não recomenda hehe), Arte e Ilusão um estudo da psicologia da representação pictórica.


[um amigo tava comendo sorvete de nata no calçadão e comentou algo como "a cor branca é legal". Fiquei espantada qd olhei para o sorvete dele e vi q não era branco, pq a luz do calçadão (era noite) era amarela e por isso o sorvete, q refletia essa luz, estava amarelo naquele momento. Entendi q só vi o sorvete amarelo pq já tinha lido esta passagem do livro. Acho interessante q as pessoas se dêem conta de uma coisa básica como essa, a nossa percepção e interpretação visual]


(....) O que nos impressiona a retina é uma confusão de pontos de luz dançantes, que estimulam os bastões e cones sensitivos que deflagram suas mensagens ao cérebro; o que vemos é um mundo estável. São precisos um esforço de imaginação e uma aparelhagem bastante complexa para compreender o tremendo abismo que existe entre os dois. Considere-se um objeto qualquer, como um livro ou um pedaço de papel. Quando nós o examinamos com os olhos ele projeta sobre as nossas retinas um motivo luminoso movediço fugaz de variados comprimentos de onda e diferentes intensidades. Esse motivo dificilmente se repetirá exatamente-o ângulo da nossa visão, a luz, o tamanho de nossas pupilas, tudo isso terá mudado. A luz branca que um pedaço de papel reflete quando voltado para uma janela é um múltiplo do que reflete quando voltado para a direção oposta. Não é que não percebamos alguma diferença. Na verdade, temos que percebê-la se quisermos ter uma estimativa da iluminação. Mas nunca estamos conscientes do grau objetivo de todas essas alterações, a não ser que usemos aquilo que os psicólogos chamam de "biombo de redução", que é, afinal de contas, uma via que nos permite ver um ponto de cor mas esconde suas relações. Aqueles que usaram esse instrumento mágico relatam as mais extraordinárias descobertas. Um lenço branco na sombra pode ser objetivamente mais escuro que um carvão à luz do sol. Raramente confundimos um com o outro, porque o carvão será, em conjunto, a mancha mais escura no nosso campo de visão, o lenço será a mais clara, e é a sua luminosidade relativa que interessa e que nós registramos.
(...)
A cor, a forma e a luminosidade das coisas permanecem relativamente constantes pra nós , embora possamos perceber alguma variação na mudança de distância, iluminação, ângulo de visão e etc. Nosso quarto permanece o mesmo quarto da aurora. Ao crepúsculo, passando pelo meio-dia, os objetos que estão contidos nele conservam sua cor e forma. Só quando confrontados com tarefas especiais que envolvem atenção a esses aspectos, é que tomamos consciencia das incertezas. Não nos arriscaríamos a opinar, sob luz artificial, sobre a cor de um tecido pouco familiar, e nos postamos no meio da sala se alguém nos pergunta se um quadro está direito na parede. Em outras circunstâncias, a nossa capacidade de "dar o desconto", de inferir apenas baseados em semelhanças, é espantosa. Todos já passamos pela experiência de ocupar um lugar ruim no cinema, longe do centro. No começo, a tela e tudo o que se vê nela parece distorcido e irreal e pensamos em ir embora. Mas depois de alguns minutos aprendemos a levar nossa posição em conta, e as proporções se ajustam. E, assim como acontece com as formas, acontece com as cores. Uma luz mortiça perturba de início, mas, graças à adaptação fisiológica do olho, logo percebemos as RELAÇÕES entra as coisas, e o mundo reassume seu aspecto familiar.
Sem a faculdade de reconhecer identidades através da diferença, de "dar o desconto" por condições que se alteram e de preservar, como hipótese de trabalho, a moldura de um mundo estável,a arte não poderia existir (...) Cada vez que nos vemos diante de um tipo de transposição alheio à nossa experiência, há um breve momento de choque e um período de ajustamento - mas é um ajustamento para o qual existe um mecanismo em nós.

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[do mesmo capítulo]

Toda cultura e toda comunicação dependem da interação EXPECTATIVA E OBSERVAÇÃO das ondas de gratificação, desapontamento, conjeturas acertadas e jogadas em falso, que constituem a nossa vida diária.
(...)

[e continua.. esse é recém o primeiro capítulo.. depois posto mais ;) ]

15.7.08


desenho do gil vicente (nanquim)

Todo mundo se espanta qd digo q nunca li nada do Fernando Veríssimo.. fiquei com vergonha e resolvi procurar algo.. comecei pelo google e logo desisti. O cara tem sacadas ÓTIMAS, inteligentes mesmo, mas é mto bobinho. comportado.Falta um ato transgressor, mais violência. Não interessa a fama dele. Não leio e não leio! (desculpa alê, mas tenho outras preferências..)


"É "de esquerda" ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado."


Luís fernando Veríssimo

Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha.

Luís Fernando Veríssimo

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".[huahuahua]

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito. [pfffffffffffffffffff]

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca [PFFFFFFFFFF]. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o AMOR existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!

Luís Fernando Veríssimo

A DEMOCRACIA PURA


por J. Vasconselos (é professor e pesquisador, pós graduado em Direito Constitucional, Socialismo e Democracia, em Hamburgo, com cursos na Sorbone,Paris, sobre História Natural do homem. Tem desenvolvido pesquisas sobre a produção de idéias em prosseguimento aos estudos de Locke e Stuart)

Democracia Pura é o processo em que possibilita ao povo se autogovernar, sem intermediários. Desde que pessoas comuns do povo possam participar pessoas comuns do povo possam participar das decisões máximas de sua sociedade ou exercer cargos de chefias administrativas e judiciárias, então podemos considerar que esteja se processando a democracia pura.
Esse processo pode ser exercido plenamente numa comunidade ou nação quando a forma de governo for unicamente formatizada pelos sistemas da democracia pura. E assim denominamos de democracia pura plena. Entrementes, esse processo pode também se materializar parcialmente. Embora a forma de governo seja uma monarquia absoluta, ou uma oligarquia, pode conter dentro dela um processo que está possibilitando, mesmo que parcialmente, a participação do povo nos atos de decisão do governo, ou que membros do povo possam estar exercendo cargos de chefias administrtivas judiciárias.
Ao contrário do que vemos hoje com a Representação Política, na democracia representativa, o povo não dispõe de meios que possibilitem participar das decisões da nação. Os seus direitos estão totalmente alienados aos políticos profissionais que se arvoram como seus "representantes" e somente eles podem decidir sobre assuntos nacionais e comunitários. Não há nenhum tribuno para para contestar atos de privilégio e discriminatórios ao povo. O Ministério Público é um órgão nada democrático. Trata-se de uma intituição Aristrocática que engloba 4 elementos que são inimigos mortais da democracia: nomeação da chefia pelo Executivo; vitalicidade dos cargos; autocontrole das funções e foro privilegiado. [eu me indigno!!!]
Ora, um órgão dessa natureza não pode desempenhar uma missão de defesa do povo. Por isso que os atos de políticos profissionais, em cargos de legisladores e de executivos, são absolutos e impunes. Se os políticos profissionais resolvem criar mordomias, favorecimentos, apadrinhamentos e leis que os favorecem, o povo não tem como contestar. Não há figura como os tribunos romanos, para impedir tais atitudes. Aumentam as suas mordomias e remunerações, estabelecem emendas orçamentárias para servir-se do dinheiro público, cometem ações de corrupção, geram oportunidades maiores a correligionários no aumento de cadeiras das câmaras municipais, votam contra investimentos em pesquisas científicas, estabelecem verbas indenizatórias para obter maiores ganhos e assim por diante.
Pode o povo dizer algo, participar e ser contra tais absurdos? Não, porque não há um processo de democracia pura para o povo intervir e mudar as decisões. E o Ministério Público, como elucidamos, não é um órgão do povo. Não há nele integrantes do povo, mas tão somente aristocratas VITALÍCIOS (!!!) e blindados, cujas chefias maior foi INDICADA (!!!) pelo chefe do Executivo. Em conclusão, não há na democracia representativa a mínima chance de o povo poder participar das decisões nacionais e do governo.
O chefe do Executivo é um indivíduo que, embora possa ter origem popular, é investido nas funções por meio de eleições que são manipuladas pela propaganda e pelo marketing, ou seja, são produtos de um método demagógico vinculado a grupos e não ao povo.
O processo da Democracia Pura plena foi vivenciado pelas sociedades humanas durante milhares de anos na pré-história, por meio de sua democracia natural (...). Com o advento das superstições, mitos, tabus e crenças , que enjaularam o pensamento humano, ocorrido entre 20 a 10 mil anos atrás, que deram origem a idolatrias, adorações, distinções sociais, endeusamento de líderes guerreiros e espirituais, separações de classes, acúmulo de riquezas para alguns, esfacelou-se a Democra Pura, e surgiu a teocracia com o poder concentrado nas mão de um sacerdote. Daí para frente, o povo não mais participaria das decisões das comunidades.. Somente vigorariam os desejos dos líderes que sacramentavam suas decisões sob o pretexto de intervençõess divinas.
(...)


o texto tem 5 páginas frente e verso.. o q postei aqui é apenas a primeira face da primeira folha... estou com preguiça de digitar o resto do texto (ele fala como funcionaria a democracia pura numa sociedade com taaaaanta gnt, dá soluções a outros problemas, e critica os partidos políticos, entre outras coisas). Se alguém quiser ler o resto, é só pedir q eu posto o que falta, ou então ler o livro dele( q ainda não li, mas qm sabe um dia desse
s?) : VASCONSELOS, J. , Democracia Pura, editora: Nobel (tem só 188 pg, dá pra ler num domingo)

(desenho do Blu)

12.7.08


"O único amigo do caracol era o elefante, que por não ter vergonha de seu pequeno amigo, usou uma concha também." (...)

5.7.08

ELIANE POTIGUARA,alguém para admirar

foto:ParkeHarrison

Existem pessoas inspiradoras. Eliane Potiguara é uma delas.

[com tantas questões a serem pesquisadas, resolvidas, questionadas, lutadas ainda a maioria das pessoas se preocupa apenas com os probleminhas da própria vidinha. Pois se elas entendessem a dimensão do todo, veriam que é muito mais intrigante e estimulando as questões universais, sejam elas no ramo da fisica-quimica, do psico-social, histórico-social ou apenas psicológico]



Eliane é escritora indígena, professora, mãe, avó, 54 anos, remanescente Potiguara. É Conselheira do Inbrapi, (Instituto Indígena de Propriedade Intelectual) e Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet e o Grumin/Rede de Comunicação Indígena.

Eliane foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz.É uma das 52 brasileiras indicadas.

Formada em Letras (Português-Literatura), licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Onu, organizações governamentais e Ongs nacionais e internacionais.

Eliane Potiguara foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988”, pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país: Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), e por ter trabalhado pela Educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país e por ter trabalhado na elaboração da Constituição Brasileira. Com a bolsa que conquistou da ASHOKA em 1989 (Empreendedores Sociais) mais seu salário de professora e o apoio de Betinho/IBASE e os recursos do Programa de Combate ao Racismo, (o mesmo que apoiava Nelson Mandela ), ela pôde prosseguir sua luta, além de sustentar e cuidar de seus três filhos, hoje adultos.

Em 1990, foi a primeira mulher indígena a conseguir uma PETIÇÃO no 47º. Congresso dos Índios Norte-Americanos, no Novo México, para ser apresentada às Nações Unidas. Neste Congresso, havia mais de 1500 índios. Por isso, participou durante anos, da elaboração da ”Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, na ONU, Genebra, por essa razão recebeu em 96 , o título “Cidadania Internacional”, concedido pela filosofia Iraniana “Baha´i”, que trabalha pela implantação da Paz Mundial.

Defensora dos Direitos Humanos, além de vários Encontros, e criadora do primeiro Jornal Indígena e Boletins conscientizadores e cartilha de alfabetização indígena no método Paulo Freire com apoio da Unesco, organizou em Nova Iguaçu/RJ, em 91 outro Encontro inédito e histórico, onde participaram mais de 200 mulheres indígenas de várias regiões, tendo como convidados especiais a cantora Baby Consuelo e vários líderes indígenas internacionais. Organizou vários cursos referentes à Saúde e Diretos reprodutivos das mulheres indígenas e foi consultora de outros encontros sobre o tema.

Em 92 foi Co-Fundadora/Pensadora do Comitê Inter-Tribal 500 Anos (kari-oka), por ocasião da Conferência Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, junto com Marcos Terena, Idjarruri Karajá e muitos outros líderes do país, além de ter participado de dezenas de Assembléias indígenas em todo o país.

Discutiu a questão dos Direitos Indígenas em vários fóruns nacionais, e internacionais, governamentais e não governamentais, diversas diretrizes, estratégias de ordem político-econômica, inclusive no fórum sobre o Plano Piloto para a Amazônia, em Luxemburgo/1999.

No final de 92, por seu espírito de luta, traduzido em seu livro “A Terra é a Mãe do Índio”, foi premiada pelo PEN CLUB da Inglaterra, no mesmo momento em que Caco Barcelos (“Rota 66”) e ela estavam sendo citados na lista dos “Marcados para Morrer”, anunciados no Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, para todo o Brasil, por terem denunciado esquemas duvidosos e violação dos direitos humanos e indígenas.

Em 95, na China, no Tribunal das Histórias não contadas e Direitos Humanos das Mulheres/Conferência da ONU, Eliane Potiguara narrou a história de sua família que emigrou das terras paraibanas nos anos 20 por ação violenta dos neo-colonizadores e as conseqüências físicas e morais desta violência à dignidade histórica de seu bisavô, avós e descendentes. Contou também o terror físico, moral e psicológico pelo qual passou ao buscar a verdade, além de sofrer abuso sexual, violência psicológica e humilhação por ser levada pela polícia federal, por estar defendendo os povos indígenas, seus parentes, do racismo e exploração. Seu nome foi jogado na lama nos jornais do Estado da Paraíba. Tudo isso à frente de suas três crianças na época.

Eliane no último governo foi Conselheira da Fundação Palmares/Minc, é FELLOW da organização internacional ASHOKA, dirigente do Grumin e membro do Women´s Writes World. Eliane participou de 56 fóruns internacionais e para mais de 100 nacionais culminando na Conferência Mundial contra o Racismo na África do Sul, em 2001 e outro fórum sobre Povos Indígenas em Paris, 2004.

Eliane é do Comitê Consultivo do Projeto Mulher_ 500 anos atrás dos panos que culminou no Dicionário Mulheres do Brasil.

É autora de seu mais recente livro ‘Metade cara, metade máscara, Global, pela GLOBAL EDITORA que aborda a questão indígena no Brasil.

http://www.elianepotiguara.org.br/
http://www.grumin.org.br/

--[ preciso da ajuda de educadores ou quem mais puder ajudar no processo de alfabetização de adultos. Material sobre o tema também ajuda, principalmente se tiver ligação com Paulo Freire.Obrigada]--

3.7.08






Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança.

albert camus

arte e vida


do livro "Os problemas da estética", do Luigi Pareyson, uma passagem:

(...) Intimamente ligado ao problema precedente está o tão discutido problema das relações entre arte e vida. Por um lado, arte e vida foram, com frequência , intimamente ligadas e, às vezes, até identificadas. Tem-se dito que a arte acompanha toda a experiência do homem, inseparável do homem, inseparável das manifestações da vida moral política, religiosa; que reflete sempre a situação histórica em que se desenvolve, representação fiel da vida humana no momento de seu desenvolvimento; que é ela própria uma forma de vida, a primeira forma do viver humano, a infância da humanidade; que tem uma missão a cumprir na vida humana, contribuindo para a civilização, para a edificação do regnum hominis, para a difusão dos valores expeculativos e morais, para a vida política e civil, porque, cônscia das próprias responsabilidades, canta as aspirações do homem, acompanha e decide suas lutas, promove seus ideais, educa seu espírito.

Por outro lado, a arte e a vida foram frequentemente separadas e, às vezes, até contrapostas. A arte foi entendida como uma atividade que sobrevém quando o homem já satisfez suas necessidades econômicas e cognoscitivas, resolveu os seus deveres morais e políticos, que se pode exercitar só depois que o homem construiu a sua civilização, num supremo desinteresse, e numa pura i9nutilidade, como atividade absolutamente gratuita, um fim para si mesma, satisfeita de si e intolerante quanto a funções ulteriores, puro jogo e mero deleite, ao abrigo do tumulto a das lutas da vida; pelo contrário, como evasão da vida, muro de sonhos, vôo da imaginação, luta contra o real, remédio para a inquieta operosidade humana, tiunfo da inatividade, refúgio na pura contemplação, voluntário isolamento das preocupações que afligem a humanidade nas realizações de seus ideais e no cumprimento de seus deveres.

Como é possível que a uma mesma atividade se atribuam carcterísticas tão diversas?

(...)

Mas o que importa não esquecer é que os dois aspectos são inseparáveis: se a arte pode emergir da vida, afirmando-se na sua especificação, é porque ela já está na vida inteira, que, contendo-a, prepara e prenuncia a sua especificação. E, no ato de especificar-se, ela colhe em si toda a vida, que a penetra e invade a ponto de ela poder reemergir na própria vida para nela exercitar as mais variadas funções: como a vida penetra na arte. assim a arte age na vida.

Neste sentido, pode-se até dizer que na arte empenho e jogo, adesão e distanciamento, responsabilidade e evasão, funcionalidade e gratuidade encontram-se e colaboram entre si, e, se tal colaboração e compatibilidade pode parecer misteriosa, deverse-á dizer que não é este o único aspecto paradoxal desta atividade que é, certamente, a mais complexa e enigmática das atividades humanas. (...)

2.7.08







"A arte nunca é casta, se deveria mantê-la longe de todoos os cândidos ignorantes. Nunca se deveria deixar que gente impreparada se lhe aproximasse. Sim, a Arte é perigosa. Se é casta não é Arte."
(Pablo Picasso)

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1.7.08


Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.

albert Camus

-foto> Misha Gordin (e é analógica!)

O Espírito dos Neurônios


desenho (nanquim) do GIL VICENTE

O Espírito dos Neurônios

por Antonio Luiz M. C. Costa


Quem somos nós, seres humanos? Do ponto de vista da biologia, a pergunta tem uma resposta satisfatória desde os tempos de Charles Darwin. Somos primatas, parentes muito próximos dos outros homínidas, como o chimpanzé, o bonobo, o gorila e o orangotango. Mais de perto, mostra hoje a genética molecular, mais do que imaginavam os evolucionistas ainda na virada do milênio. Por extensão, somos primos mais distantes, em graus variáveis de parentesco, de todos os demais seres vivos conhecidos sobre a face da Terra.

Mas esta resposta não é completa. Por importantes que sejam o corpo e o código genético que o reproduz, nós também nos caracterizamos por algo que aparentemente não compartilhamos com outros seres vivos, ou compartilhamos apenas em pequena parte, inclusive com os mais próximos de nós. É a noção de existir com uma história passada, uma expectativa de futuro, uma relação com o mundo e com outros seres e também saber que se tem essa noção. Ou seja, aquilo que chamamos de consciência.

O biólogo Gerald Edelman propõe explicar a consciência pelo que chama de “darwinismo neural”. É importante esclarecer, de saída, que isso não é darwinismo social, sociobiologia ou psicologia evolucionária. Pelo contrário, se opõe à idéia de determinação da mente pela genética, defendida por muitos biólogos e geneticistas, como Francis Crick.

Para estes, os aspectos mais importantes da mente estão codificados no DNA, que determina a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso e hormonal e, por meio destes, as capacidades inatas, as tendências e os comportamentos individuais, incluindo inteligência, preferências sexuais e preconceitos raciais.

Edelman já venceu uma importante queda-de-braço intelectual com Francis Crick sobre tema análogo: o sistema imunológico. Contrariando as noções prevalecentes nos anos 60, segundo as quais os linfócitos (células do sistema imunológico) formavam “moldes” de substâncias estranhas a partir dos quais fabricavam os anticorpos, Edelman propôs que o sistema funciona por seleção.

Em cada linfócito, o gene para um anticorpo sofre variações por mutação e recombinação, de maneira que cada um dos 100 bilhões de linfócitos pode portar um anticorpo diferente. Quando um corpo estranho se encontra com um anticorpo que se ajusta, a célula que o porta recebe um sinal para se dividir e produzir mais desse anticorpo, neutralizando a invasão.

Francis Crick declarou a teoria absurda, dizendo que, caso estivesse errado, comeria o papel em que ela havia sido escrita. Mas Edelman tinha razão e, em 1972, sua teoria lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina. Conta-se que, na cerimônia, entregou o resumo da tese a Crick, dizendo “maionese em mim”.

Hoje, mais uma vez contrariando Crick, o darwinismo neural que vem sendo desenvolvido por Edelman desde 1987 sustenta que, no essencial, a estrutura da mente não é fixada pela genética. Resulta de um processo de seleção que é análogo à seleção natural dos genes – e, por isso, é “darwinista” –, mas não determinado por eles.

Não é como a fábrica de Manaus, que monta o projeto de circuito eletrônico detalhado e enviado pela matriz. É mais como se a filial recebesse apenas uma lista de componentes que podem ser conectados de inúmeras maneiras diferentes e tivesse de construir o equipamento por experiência e erro, testando-o e adaptando-o às necessidades locais, fazendo concorrer entre si várias diferentes possibilidades.

É essencial a “degenerescência”, ou redundância, entre os módulos neuronais – ou seja, que módulos diferentes possam representar, aproximadamente, as mesmas formas, de maneira que possam concorrer entre si e ser comparados e selecionados.

A consciência propriamente dita forma-se quando, dessa interação entre tais módulos coordenada pela estrutura cerebral conhecida como hipocampo – processo que o autor chama de “reentrância” –, emerge uma experiência unitária das sensações que os filósofos chamam de qualia e são qualitativamente distintas das propriedades físicas dos estímulos: o verdor, o calor e assim por diante.

Animais como os cães, segundo Edelman, possuem apenas o que chama de consciência primária, limitada à representação global e imediata do ambiente, sem o conceito de passado, futuro e de um si-mesmo nomeável e a consciência de estar conscientes. A consciência secundária, rudimentar no chimpanzé e plena no ser humano, exige as capacidades semânticas e simbólicas de uma verdadeira linguagem dotada de sintaxe e capaz de ultrapassar o presente, permitindo aos atores representar a si mesmos [a arte hehe...] e elaborar estratégias de sobrevivência a longo prazo.

A concepção darwinista neural estende-se, vale notar, à linguagem, que Edelman considera uma invenção, por mais que isso contrarie o consenso de grande parte dos lingüistas contemporâneos em relação às teses de Noam Chomsky, que considera inatos os mecanismos da linguagem e os fundamentos da gramática.

Ao longo da vida e do aprendizado, neurônios distantes tendem a se unir por meio das ligações chamadas sinapses, quando são estimulados ao mesmo tempo. Essas conexões tendem a se tornar mais fortes ou mais fracas, conforme a experiência as reforça de maneira positiva ou negativa.

Naturalmente, é preciso, para começar, que haja propensões inatas a perceber certos resultados como positivos ou negativos. Por exemplo, que se sinta a dor como ruim e a satisfação da necessidade de alimento como boa. De resto, a formação de circuitos entre os neurônios – e, portanto, as ligações entre percepções, sentimentos, pensamentos e comportamentos – é determinada pela experiência, não pelos traços geneticamente herdados dos pais.

Dois gêmeos idênticos podem desenvolver conexões neurais bem diferentes, resultando em mentes diferentes. Tanto em hardware quanto em software, por assim dizer. No cérebro humano essas noções não são tão distintas quanto em um microprocessador e as analogias podem ser enganosas: no ser humano, a informação está, na maior parte, na própria “fiação”.

Edelman fala, por isso, de Segunda Natureza, título de seu livro de 2006. A expressão, mais comum em inglês do que em português, refere-se a hábitos e habilidades que se adquirem pela prática a ponto de ser praticados sem necessidade de esforço consciente – como dirigir em condições normais, para um motorista experiente – e parecerem inatos, até mesmo “instintivos”.

Sua visão da consciência talvez seja comparável à concepção da natureza humana por Karl Marx, tal como analisada pelo cientista político britânico Norman Geras. Baseia-se na distinção entre a natureza humana “em geral”, constituída de necessidades e impulsos (inclusive de viver em comunidade e controlar o ambiente) que conduzem ao bem-estar e a natureza humana modificada e transformada em cada época histórica pelas circunstâncias.

É essa natureza humana que explica o movimento geral da história e os antagonismos de classe, e é nos termos da medida em que essa natureza se torna simples instrumento do capital e deixa de desenvolver seu potencial que se pode falar em alienação e criticar um sistema social. Se ela fosse infinitamente maleável, não haveria como dizer que uma condição é melhor ou pior do que outra. Se fosse inteiramente determinada pela genética, não haveria como promover mudanças qualitativas na condição humana.

Por ver a consciência como conseqüência natural das funções cerebrais em nível celular, a concepção de Edelman é claramente oposta à de Descartes e de todo dualismo, inclusive na versão contemporânea do matemático Roger Penrose, que atribui a supostos fenômenos quânticos subcelulares um papel crucial na formação da consciência e da capacidade humana de transcender a lógica formal.

Também se opõe ao materialismo reducionista de Francis Crick, que vê o cérebro como um computador no sentido mais estrito da palavra, ou seja, como uma máquina de Turing, um executor de algoritmos passível de ser modelado por uma rede de processamento paralelo.

Edelman não rejeita a possibilidade de construir uma verdadeira consciência artificial e dedica muito de seus esforços a essa pesquisa e à construção dos artefatos da série Darwin, que procura simular o seu modelo de funcionamento cerebral.

Não se trata de robôs tais como têm sido definidos e fabricados na vida real, ou seja, máquinas programáveis que seguem uma seqüência de instruções. São máquinas evolucionárias, mais parecidas com os robôs da ficção científica do que com os das fábricas. Nenhuma função é predefinida e suas conexões “sinápticas” iniciais são distribuídas ao acaso. Em vez de ter um programa definido, os “cérebros” desenvolvem categorias perceptuais com base em sua experiência do mundo real percebida como positiva ou negativa, em função da qual constroem sistemas de memória apropriados. [medo! o.O]

A partir de sua concepção de darwinismo neural, Edelman propõe também uma “epistemologia baseada no cérebro”, ou neuroepistemologia, na qual o reconhecimento de padrões precede a lógica, fontes múltiplas e heterogêneas de conhecimento precisam ser levadas em conta e a experiência emocional é essencial à sua aquisição. É uma radicalização da proposta do filósofo estadunidense Willard Quine de “naturalizar a epistemologia” que, focada nos sentidos e na física, deixa de levar em conta o funcionamento interno do sistema nervoso e a intencionalidade, ou seja, a noção de que os estados mentais, crenças ou desejos se referem a objetos além da própria consciência, existentes ou não.

Além disso, de certa maneira, Edelman posiciona-se em um meio-termo no debate do filósofo John Searle com o colega Daniel Dennett sobre os qualia. Searle afirma que os estados de consciência são intrinsecamente subjetivos e irredutíveis a qualquer definição ou explicação pelas ciências naturais, cuja formulação estaria ancorada no ponto de vista da terceira pessoa. Dennett, apoiado em programas de pesquisa em neurociências e inteligência artificial, adota uma teoria reducionista, que equipara o cérebro a um computador e a consciência a um software passível de ser analisado cientificamente, na terceira pessoa.

Para Dennett, “postular qualidades internas especiais que são não apenas privadas e intrinsecamente valiosas, mas também que não podem ser confirmadas nem investigadas, é apenas obscurantismo” e os qualia são apenas um julgamento errôneo sobre o que de fato acontece.

Edelman admite a realidade dos qualia, mas não a sua relevância. A ênfase na neurologia o leva a tentar explicar a consciência apenas em termos do cérebro individual, sem levar suficientemente em conta o papel da interação com o ambiente, principalmente o meio social. Isso o levou a considerá-la como um epifenômeno, ou seja, um efeito colateral do funcionamento do cérebro e da linguagem que não tem conseqüências causais próprias – assim como a hemoglobina (exemplo dele) se torna vermelha quando se liga a uma molécula de oxigênio, mas isso não faz diferença para suas propriedades químicas.

Mas Edelman cai em contradição ao escrever, em outra passagem, como notaram leitores atentos, que a consciência “nos informa de nossos estados cerebrais e é assim central ao nosso entendimento”. Quem é esse “nós” que parece diferente tanto do cérebro físico quanto do processo de consciência?

O biólogo Steven Rose, resenhista do jornal britânico The Guardian, sugeriu que, se não se quiser voltar a cair no dualismo cartesiano, é preciso ver na consciência um processo que emerge das interações dos portadores dos cérebros entre si e com o ambiente e não apenas entre os módulos cerebrais.

No blog Automates Intelligents, o francês Jean-Paul Baquiast, economista e especialista em inteligência artificial, notou o mesmo impasse e aponta para saída semelhante. Seu exemplo é um humano que, ao passar por uma floresta e pressentir um predador, adverte seus companheiros, justamente porque sua consciência secundária, ou superior, pôde representar a situação geral do grupo e decidir intervir por meio de um discurso adequado.

Mesmo numa situação solitária, a voz interior da consciência secundária, ao representar o perigo para si mesma em palavras, ajuda a consciência imediata a mobilizar seus recursos para a luta ou a fuga, mostrando-se assim não um mero epifenômeno, mas um processo útil à sobrevivência do indivíduo e seu grupo. Além de ser um ponto de partida para toda a aventura intelectual, sentimental e espiritual da vida humana e da história da humanidade.