20.7.08

Arte e Ilusão, Gombrich




uma pequena passagem do livro q recém comecei a ler, do Gombrich (q a professora Nara não recomenda hehe), Arte e Ilusão um estudo da psicologia da representação pictórica.


[um amigo tava comendo sorvete de nata no calçadão e comentou algo como "a cor branca é legal". Fiquei espantada qd olhei para o sorvete dele e vi q não era branco, pq a luz do calçadão (era noite) era amarela e por isso o sorvete, q refletia essa luz, estava amarelo naquele momento. Entendi q só vi o sorvete amarelo pq já tinha lido esta passagem do livro. Acho interessante q as pessoas se dêem conta de uma coisa básica como essa, a nossa percepção e interpretação visual]


(....) O que nos impressiona a retina é uma confusão de pontos de luz dançantes, que estimulam os bastões e cones sensitivos que deflagram suas mensagens ao cérebro; o que vemos é um mundo estável. São precisos um esforço de imaginação e uma aparelhagem bastante complexa para compreender o tremendo abismo que existe entre os dois. Considere-se um objeto qualquer, como um livro ou um pedaço de papel. Quando nós o examinamos com os olhos ele projeta sobre as nossas retinas um motivo luminoso movediço fugaz de variados comprimentos de onda e diferentes intensidades. Esse motivo dificilmente se repetirá exatamente-o ângulo da nossa visão, a luz, o tamanho de nossas pupilas, tudo isso terá mudado. A luz branca que um pedaço de papel reflete quando voltado para uma janela é um múltiplo do que reflete quando voltado para a direção oposta. Não é que não percebamos alguma diferença. Na verdade, temos que percebê-la se quisermos ter uma estimativa da iluminação. Mas nunca estamos conscientes do grau objetivo de todas essas alterações, a não ser que usemos aquilo que os psicólogos chamam de "biombo de redução", que é, afinal de contas, uma via que nos permite ver um ponto de cor mas esconde suas relações. Aqueles que usaram esse instrumento mágico relatam as mais extraordinárias descobertas. Um lenço branco na sombra pode ser objetivamente mais escuro que um carvão à luz do sol. Raramente confundimos um com o outro, porque o carvão será, em conjunto, a mancha mais escura no nosso campo de visão, o lenço será a mais clara, e é a sua luminosidade relativa que interessa e que nós registramos.
(...)
A cor, a forma e a luminosidade das coisas permanecem relativamente constantes pra nós , embora possamos perceber alguma variação na mudança de distância, iluminação, ângulo de visão e etc. Nosso quarto permanece o mesmo quarto da aurora. Ao crepúsculo, passando pelo meio-dia, os objetos que estão contidos nele conservam sua cor e forma. Só quando confrontados com tarefas especiais que envolvem atenção a esses aspectos, é que tomamos consciencia das incertezas. Não nos arriscaríamos a opinar, sob luz artificial, sobre a cor de um tecido pouco familiar, e nos postamos no meio da sala se alguém nos pergunta se um quadro está direito na parede. Em outras circunstâncias, a nossa capacidade de "dar o desconto", de inferir apenas baseados em semelhanças, é espantosa. Todos já passamos pela experiência de ocupar um lugar ruim no cinema, longe do centro. No começo, a tela e tudo o que se vê nela parece distorcido e irreal e pensamos em ir embora. Mas depois de alguns minutos aprendemos a levar nossa posição em conta, e as proporções se ajustam. E, assim como acontece com as formas, acontece com as cores. Uma luz mortiça perturba de início, mas, graças à adaptação fisiológica do olho, logo percebemos as RELAÇÕES entra as coisas, e o mundo reassume seu aspecto familiar.
Sem a faculdade de reconhecer identidades através da diferença, de "dar o desconto" por condições que se alteram e de preservar, como hipótese de trabalho, a moldura de um mundo estável,a arte não poderia existir (...) Cada vez que nos vemos diante de um tipo de transposição alheio à nossa experiência, há um breve momento de choque e um período de ajustamento - mas é um ajustamento para o qual existe um mecanismo em nós.

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[do mesmo capítulo]

Toda cultura e toda comunicação dependem da interação EXPECTATIVA E OBSERVAÇÃO das ondas de gratificação, desapontamento, conjeturas acertadas e jogadas em falso, que constituem a nossa vida diária.
(...)

[e continua.. esse é recém o primeiro capítulo.. depois posto mais ;) ]