20.6.08


Aqui vai um texto que NÃO me convenceu à primeira vista, mas fui observando as relações ao meu redor e acabei dando o braço a torcer(mas ainda prefiro ficar desconfiada - pelo bem da "inocência/ingenuidade" ;] ).Paulo Ghiraldelli diz, pra resumir toscamente, que as mulheres (principalmente elas, mas Eles tb) feias, sentem inveja e até preconceito das mulheres bonitas e por isso a sabotam de várias maneiras. Parece meio idiota. Mas as pessoas são idiotas huahau

(muito interessante o que ele diz sobre procurar doenças em criminosos para livrar-nos da possibilidade de que o ser humano seja assim mesmo)


por Paulo Ghiraldelli Jr. “O filósofo da cidade de São Paulo”. e-mail pgjr23@gmail.com

A menina de 14 anos queimada pela de 16, em uma escola pública da cidade de São Paulo nesta semana de março, foi ferida brutalmente por ser bonita. Era tida como “a mais bonita da escola”. Todos que deram depoimento ali na escola apontaram isso: ciúmes, sim, mas antes de tudo, inveja. Ela seria agredida, mais cedo ou mais tarde. Teria de ter sorte de passar pela juventude sem despertar o ódio. A beleza do homem cai como uma luva para ele, e pode lhe salvar a vida, talvez. Foi isso que disse no caso do filho da líder do Paquistão, quando clubes de fãs vieram em sua proteção pela Internet. Todavia, a beleza da mulher não lhe cai como uma luva; não raro é uma sina. Os que a atacam estão longe de serem doentes. A visão da psicóloga entrevistada pela Rede Globo é ridícula, sem conhecer os fatos e as pessoas montou um quadro patológico precoce. A velha linha de raciocínio: mais doença em criminosos, até o ponto de inocentá-los.

Procurar doenças em criminosos é parte da ciência moderna psicologizante. Já se fez de tudo para não aceitar Hitler como humano, de modo a tirá-lo da condição que é a nossa. Não podemos ver Hitler como humano, pois a filosofia nunca conseguiu um argumento contra ele que fosse definitivo. Então, buscamos na psicologia. Ela decretou que Hitler deveria ser doente, e então nos tirou todos do pecado. Seríamos diferentes – ufa! Será?

O ciúmes é apenas a ponta do iceberg que é o problema real que levou a jovem atacar a outra com fogo, e não com uma faca ou com o compasso, que ela também tinha na mão. Gasolina e fogo deveriam dar conta não da vida de Grazielli, mas de sua beleza. A inveja estava ali como o alimento do demônio. A ciência não quer falar de inveja. E certas formas de sociologia – o marxismo à frente – também não. Reduziram a inveja a um elemento contingente, que “não explica nada”, e então ele não pode contar como o que realmente está na base do crime contra Grazielli, e outros semelhantes. Pois quando evocamos a inveja, temos de admitir que ela é humana, que não está fora do mundo, que não tem a ver com uma doença e, então, ser esporádica. Uma vez trazida à tona, a inveja é vista por todos nós como um sentimento que já tivemos. E então, nos envergonhamos. Não suportamos ver outros como estrelas, e não nós, em algum sentido. E então não queremos trazer a inveja para o campo dos elementos válidos no jogo de crimes e desacertos. Pois isso nos provoca interiormente, revira nosso passado, fustiga nosso presente – maldito espelho! --[isso me faz lembrar o papo da Vaidade q publiquei esses dias..]--

Delegamos a inveja para o conto de fadas. A Rainha má era linda, mas Branca de Neve era mais bonita ainda. Sim, podemos falar da inveja aí. Pois, nesse caso, o conto é visto como pré-moderno e, quando posto no cinema pela modernidade de Disney, é para crianças. A ciência não pode evocar a inveja. A guerra da beleza e as armas da inveja não são elementos da ciência. Agora, uma patologia psicológica qualquer, ah, aí sim, resolve o caso. Tudo estaria resolvido no caso do fogo ateado contra Grazielli. Basta chamar a “medicina da cabeça” e colocar nas mãos da menina incendiária um chapéu de Napoleão. O manicômio ou a clínica de recuperação é a salvação não do doente, mas a salvação nossa. Escapamos assim da condição de sermos como Hitler ou de termos filhos como a menina agressora.

Mas, aí, desprezamos o senso comum? O senso comum que insiste em falar de ciúmes e, então, aponta para beleza de Grazielli, estaria totalmente errado? O ciúme não é a inveja. Quem tem ciúmes está em um triângulo amoroso ou algum outro triângulo de relacionamento; quem tem inveja não necessariamente está em um triângulo. A inveja é a inveja do outro – há uma relação a dois nesse caso. O outro é belo, dele emana luz – eu o invejo. Por isso, a beleza de Grazielli, e não necessariamente Grazielli, tem de desaparecer. Queimar Grazielli é a saída mais óbvia. Foi o que foi feito.

Mais cedo ou mais tarde a beleza de Grazielli iria não só abrir portas, mas fechá-las. Ou então abrir alçapões. A beleza das mulheres, especialmente de meninas, é a fonte de vários tipos de discriminação. Quando são inteligentes, precisam provar. Quando são tolas, devem assim permanecer. Quando são espertinhas, devem ser tomadas como putas. “A beleza merece viver” – foi isso que escrevi no caso do filho de líder Paquistão. Mantenho a frase, mas, no caso da mulher, acrescento: que viva para que possamos ver sua beleza desaparecer, pelo tempo. Essa é a vingança dos comuns e feios. No caso de Grazielli, a invejosa não quis ter o tempo como aliado.

A inveja é um sentimento comum. Mas não deveria ser premiado. No Brasil ela é premiada. Entre nós, todos que possuem inveja se conhecem, sem que precisem trocar palavras. Em uma reunião de trabalho, os invejosos se entreolham e escolhem o mais belo ou a mais bela como alvo. Caso essa beleza ainda venha agregada à juventude, então as mulheres mais velhas, em especial as feias, começam seus planos malignos. Mulheres bonitas que percebem isso desenvolvem um aspecto marcial, com fala pouco espontânea. Não raro, ocupam depois cargos públicos de mando. Tentam competir em um terreno onde as feias e envelhecidas entendem que seja terreno destinado a elas – somente. A universidade, o banco, a escola, o escritório, o consultório, o hospital – em todos esses lugares há a luta entre os feios contra o bonito. Ou melhor: a guerra das feias contra a bonita. A inveja está ali. Ela corrói cada alma.

Há feios que se transformam em estrelas. São compensados pela falta de beleza tendo algum talento. Uma vez vitoriosos, conseguem superar a inveja. Há os feios que colecionam derrotas o que só sabem valorizar suas derrotas. Esses são perigosos. Mas não os vemos em seus pensamentos. A não ser que sejamos invejosos. Só os invejosos se comunicam com os invejosos sem a palavra. Eles são uma rede, e formam uma comunicação que se dá apenas pelos olhares. Às vezes, nem precisam dos olhares. Formam uma cadeia telepática. Entram no tabuleiro já em conjunto, enquanto que o belo e, principalmente a bela, entra só. Vai perder. Será queimada.

Diderot dizia que o talento é imperdoável. Sim. Eu prefiro parafraseá-lo dizendo que a beleza é imperdoável. A beleza pode ser exibida. As pessoas podem chamar alguém de “linda”. Mas a feiúra é protegida por leis. Leis que Nietzsche identificou como próprias da “modernidade”. Ninguém pode chamar o outro de “feio”. Os americanos usam de um eufemismo, “loosers” e “winners”, e então conseguem alguma catarse. Seus adjetivos apontam para algo maior. Sendo algo maior, não envolvem só a beleza e a feiúra, mas exatamente por isso eu chamo isso de eufemismo. No Brasil não temos esse recurso, uma vez que também somos proibidos de falar em “perdedor” e “vencedor”. É antidemocrático falar assim. Não podemos chamar uma criança burra de burra. E ensinamos as outras crianças a também não dizer isso. Queremos que não sejam “cruéis”. Mas é preciso saber lidar com a crueldade, pois quando a reprimimos de um lado, ela pode apontar sua cabeça de outro. E a inveja pode ser seu alimento e estopim.

Enquanto não admitirmos que somos invejosos e enquanto as mulheres feias não admitirem que elas são preconceituosas com as bonitas e, até mesmo, perigosas, estaremos longe de ter uma sociedade saudável. E a reação das feias a esse artigo, vocês verão, será violento, ranzinza e … despeitado. As feias reagirão. As bonitas de todo tipo, superiores, aplaudirão. As bonitas e ingênuas, que fiquem atentas contra o fogo.