14.6.08

A IMORTALIDADE


no meio dessa semana que passou, terminei de ler um livro do Milan Kundera, um autor muito bem quisto e sempre indicado por um conhecido meu . O livro é A Imortalidade.
Como de costume, depois de ler um livro, escrevo uma resenha sobre, ou uma crítica.
Confesso que com este livro me foi difícil juntar as inúmeras frases que me saltavam na mente. Como não tinha a pretensão de mostrá-la a ninguém, escrevi uma resenha dadaísta mesmo (hauhaua).
Depois de escrever os apontamentos ou conclusões dos livros que leio, gosto de ver na internet o que é dito sobre aquilo que li. É uma experiência enriquecedora que recomendo a todos.
Posto aqui uma colagem dos comentários que "googlei" e, percebendo a diferença entre eles, entenderão o por quê que só me foi possível escrever apontamentos "dada".
--Tive o cuidado de só colar as partes que fazem reflexões interessantes e que não exija a leitura prévia do livro.

por há sempre um bom livro (blogspot):
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Para Milan Kundera, o desejo de imortalidade, de permanecer na memória colectiva depois do desaparecimento do mundo terreno, condiciona todos os gestos da humanidade, desde o desejo de fazer-se notar, através da emissão de opiniões marcadas por um fanatismo militante, ao uso do ruído – visual ou auditivo – para chamar a atenção e fixar-se na memória dos demais. Algo que é contrariado pela sociedade que nos molda e nos obriga a submeter-nos às mesmas regras (ex: a censura alheia quando contrariamos a atitude da maioria), um paradoxo da sociedade onde vivemos a qual, ao defender a liberdade de expressão obriga, na realidade, à uniformidade de gestos e atitudes. Ao conformismo.
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Este é um livro extremamente difícil de comentar, uma vez que o Autor se propõe escrever um romance que não possa ser contado. Trata-se de uma narrativa não linear, onde não existe uma trama principal mas várias, que se cruzam no espaço e no tempo, onde o autor – que é, também uma personagem – intervém e interage com as outras personagens. Este é sobretudo um observador não participante a analisar detalhadamente os gestos e atitudes exteriores do Outro, como um antropólogo ou psicólogo behavourista, para depois procurar o fundamento, o motivo, que sustenta esse mesmo comportamento, seja ele de origem cultural, individual, ou despoletado pela interacção social com determinado grupo.

Não se trata, por isso, de um romance autobiográfico mas antes de uma recriação da construção ficcional a partir de um dado real – um rosto ou um gesto a ele associado.

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O Autor relaciona, também, o tema da imortalidade com a falta de privacidade em relação às figuras públicas e com a avidez do homem comum que suga vampiricamente a vida privada das celebridades, em busca de escândalos que dêem algum colorido às suas vidas, também elas cinzentas. Da mesma forma, e obedecendo ao mesmo desejo de imortalidade, o jornalismo, na óptica de Kundera, perdeu um pouco de vista a sua primitiva função de informar, para se tornar numa forma de exercício de poder, transformando-se, na maior parte dos casos, numa disputa ou num combate entre entrevistador e entrevistado.
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É neste momento do romance que se observa a universalidade de gestos, dos comportamentos subjacentes às normas de conduta vigentes que se transmitem através dos séculos e que servem, muitas vezes, para mascarar emoções e esconder os impulsos e os verdadeiros motivos que estão por detrás de um gesto ou de uma frase (por exemplo, o quebrar de um par de óculos). E também o processo de atribuição de rótulos inadequados a uma dada figura pública que, ainda antes de se terem inventado os meios audiovisuais, já se colavam de forma indelével a uma dada personalidade distorcendo a sua imagem com um efeito de halo.
É também nesta fase do romance que Milan Kundera expõe a sua tipologia relativa aos diferentes tipos de imortalidade: pequena, grande, sublime, risível…e ainda a imortalidade associada aos homens de estado e, também, aquela que está directamente relacionada aos homens das artes, das letras e das ciências. Frisa, ainda, que a ideia de imortalidade está ligada à ideia da morte, de forma indissociável.
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Para o Autor só o talento e a inteligência são, na verdade, o único atributo merecedor da imortalidade. O único motivo válido para permanecer na memória colectiva.
Porque a imortalidade sem talento torna-se ridícula
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É preciso também que as massas se sintam mais próximas daqueles que se destacaram de entre os muitos milhões que nunca saíram do anonimato. Porque o lado humano e grotesco dos génios atenua a diferença. O móbil é sempre o mesmo. A imortalidade. Mesmo que conseguida à custa da desvalorização do inquestionável talento do Outro.
O mesmo se passa hoje em dia com a Comunicação Social, onde o jornalismo que, desde Oriana Fallaci, faz e desfaz reputações, constrói a imagem das figuras públicas. Para Milan Kundera a ideologia nos dias de hoje, foi substituída pela imagologia.
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No seu entender, à luz da cultura judaico-cristã, a paixão e o amor conjugal são incompatíveis e inconciliáveis na mesma pessoa.
Na altura a instituição da Igreja proibia o sexo fora do casamento e sendo este mesmo casamento o casamento, a cena final do romance, o sexo a ele associado tirava a magia ao desenvolvimento da trama.
Kundera vai ainda mais longe chegando, inclusive, a afirmar que, a história da literatura europeia, deixa de fora o casamento não para proteger os leitores do possível tédio matrimonial, mas para os protegerem do coito. É talvez por esta razão que, na mesma literatura europeia, o sexo (sempre em contexto extra-conjugal) vem quase sempre associado a algo de nefasto, acompanhado da tragédia, ou da ideia do Mal.
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A Imortalidade é um romance onde não há unidade de acção. O Autor quebra continuamente a intensidade dramática com as suas corrosivas reflexões pessoais que só enriquecem o romance, tornando-o apetecível. Um livro para ser saboreado frase a frase.
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por estados alterados:
Milan Kundera, em " A Imortalidade", chama a atenção para o gradual desaparecimento do pudor, ao longo do séc. XX. Para o autor checo, a palavra designa simplesmente o "cuidado em evitar o que queremos, sentindo-nos envergonhados por querer o que procuramos evitar". O grande romance do séc. XIX e primeira metade do seguinte perdeu um dos seus temas favoritos. E nós também.