29.9.08


do livro o contraponto, aldous huxley:

"(...) - Mão devemos tomar a arte muito ao pé da letra. - lembrava-se walter do que seu cunhado, Philip Quarles, lha dissera uma noite em que estavam falando sobre poesia. - E especialmente no que diz respeito ao amor.

- Nem mesmo quando é verdadeira? - perguntara ele.

- A poesia pode ser demasiadamente verdadeira. Pura como água destilada. Quando a verdade não é nada senão a verdade, ela é antinatural; uma abstraçõ que nada tem se parece do mundo real. Na natureza há sempre tantas coisas estranhas misturadas à verdade essencial! Eis por que a arte nos comove: prcisamente porque está depurada de todas as impurezas da vida real. As orgias verdadeiras nunca são tão excitantes como os livros pornográficos. Num volume de Pierre Louis todas as raparigas são jovens e têm formas perfeitas; não há soluços nem bebedeira, nem mau hálito, nem fadiga, nem tédio, nem lembranças súbitas de contas a pagar ou de cartas comerciais a responder; nada disso para iterromper os arrebatamentos. A arte nos dá a sensação, o pensamento, o sentimento absolutamente puros; isto é, quimicamente puros. - E acrescentara uma risada - Não moralmente.

- Mas o Epipsychidon não é pornografia - objetara Walter.

Não, mas é igualmente puro sob o ponto de vista químico. Como é aquele soneto de shakespeare?

My Mistress's eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red than her lip's red:
If snow be white, why thwn her breasts are dun;
If hair be wires, black wires grow on her head.
I have seen roses damasked, red and white,
But no such roses see I in her cheeks;
And in some perfumes is the more delight
Then in breath that from my my mistress reeks... (...)